Como foi projetado a fábrica de empilhadeiras da Toyota no Brasil?

Neste artigo, iremos contar a história desde a concepção até a inauguração da fábrica de empilhadeiras da Toyota Material Handling Mercosur (TMHM). Nós, o Naoto Hiramatsu e Ronaldo Nagai, fomos os líderes desta empreitada do lado brasileiro, principais membros do Corporative Planning Department da TMHM.

A TMHM, subsidiária da Toyota Industries Corporation (TICO), estabelecida no Brasil desde 2004, conta com diversas filiais no Brasil e uma unidade na Argentina, em Buenos Aires. A sede administrativa da Toyota, situada em São Bernardo do Campo, centraliza as operações de vendas e pós-vendas para todo o território nacional. Todas as filiais, em Campinas e São José dos Pinhais - PR, foram projetadas e implementadas sob a liderança do Naoto.

Para contextualizar o início do projeto ou a concepção da fábrica, vamos voltar 11 anos, em 2010, quando o Brasil se recuperava muito bem do Lehman Shock de 2008. O crescimento do PIB brasileiro de 2010, em valores correntes, foi de 6.5%, tendo-se no setor da indústria um crescimento significativo de dois dígitos, 10.1%! Crescimento só visto em 1986, durante o Plano Sarney. Ademais, a estabilidade cambial e a significativa geração de empregos com ganhos reais de salários foram os principais fatos macroeconômicos deste ano.

Fazendo-se um SWOT desta época, o cenário acima descrito encaixava-se muito bem no quadrante Oportunidade.

Todavia, a TMHM, apesar dos reconhecidos produtos de alta qualidade, não conseguia ampliar seu market share, pois sofria uma forte concorrência não necessariamente das empresas concorrentes, mas da “marca” chamada Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial). Isto mesmo, a maior concorrente era a linha de financiamento do BNDES, pois os seus produtos não eram fabricados no Brasil. Esta situação encaixava-se tanto no quadrante Fraquezas como no Riscos do SWOT.

Estes dois principais cenários, Econômicos e Mercadológicos, foram decisórios para a aprovação do início do projeto e, a formação do time para esta empreitada.

A fábrica brasileira, em um terreno de 91.000 m² e uma área construída de 31.000 m², localizada em Artur Nogueira, interior de São Paulo, está estrategicamente próxima das principais rodovias do estado. Nesta unidade, atualmente são fabricadas a empilhadeira a combustão da Série 8, a transpaleteira manual LHM e a empilhadeira elétrica patolada SWE140, de acordo com o Sistema Toyota de Produção (TPS), atendendo aos padrões globais de excelência da Toyota.

Com máxima qualidade em produtos, serviços, inovação, tecnologia e soluções sob medida para o consumidor brasileiro, a Toyota expande, somando milhares de clientes satisfeitos e reafirmando seu compromisso com o mercado brasileiro.

Como ferramenta de decisão pela cidade de Artur Nogueira, utilizamos o Balanced Score Card (BSC), levando-se em consideração tópicos estratégicos como Localização (logística), Imóvel (preço, topografia e licenças), Apoio Governamental (principalmente Municipal), Sindicato, Moradia e Escolas para Expatriados/Colaboradores e familiares, Construtora e, principalmente, a viabilidade técnica, produtiva e operacional de nacionalizar partes e peças.

Neste determinante quesito de Nacionalização, nós negociamos com a BNDES um cronograma de atingimento de 60% de nacionalização em um horizonte de três anos.

O resultado da ponderação de todos os tópicos levou a TMHM decidir pela cidade de Artur Nogueira. Tradicionalmente, a TICO costuma escolher cidades de pequeno porte, com o intuito de ajudar no desenvolvimento sócio econômico local. As fábricas de Columbia no Estados Unidos e Ancenis na França, “irmãs mais” velhas da TMHM seguiram a mesma lógica em décadas passadas.

A Engenharia também foi um ponto desafiador, pois o projeto técnico era norte-americano com componentes japoneses, agregando-se ano a ano com partes e peças produzidos no Brasil.

Todo o projeto com todos estes elementos e situações citadas foram geridas com os conceitos e metodologia amplamente conhecidas da Toyota, destacando-se o rigoroso Checks do Action Plan de duas a três vezes por semana com todo o time distribuídos no Japão, EUA e Brasil.

Como temos mencionado em outros artigos, o Plan do PDCA é hipotético, durante o Do ou na execução do plano a situação muda constantemente. Daí a grande importância do Check para corrigir o curso do projeto. Na Toyota, as eventuais grandes mudanças nos projetos são denominadas Design Review (DR-1, DR-2...).

Destacamos, ainda, a adoção do conceito de gestão de projetos híbrido na época, combinando o estado da arte em metodologias Waterfall e Agile, dentro do conceito do JPM – Japanese Project Management. A adoção dessa abordagem foi fundamental para a condução de projetos de alta complexidade, envolvendo partes relacionadas de diversos países, como Japão, Estados Unidos, Suécia e Brasil. Atualmente, métodos ágeis na gestão de projetos têm ganhado cada vez mais adeptos, ao passo que abordagens híbridas ainda são incipientes, mas com grande potencial de expansão.

Temos o orgulho e grande satisfação de termos participado desta grande empreitada, na injeção de um significativo capital estrangeiro , implantação de produto de primeira linha no mercado de movimentação de cargas, contribuído no desenvolvimento em todos os sentidos na cidade de Artur Nogueira e gerando mais empregos, capacitando mais brasileiros dentro de uma empresa benchmark como a Toyota.

Por fim, acreditamos que o maior legado deixado por um projeto dessa relevância é a porta que foi aberta para diversos profissionais trilharem uma carreira de sucesso na empresa. Enche-nos de alegria vermos os colegas de jornada (do já longínquo 2011) assumindo posições de destaque na TMHM e em outras organizações, correndo atrás de seus sonhos e, principalmente, dando continuidade a um projeto com um propósito maior: gerar cada vez mais oportunidades aos brasileiros.



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