Os desafios da globalização de planos de saúde.

É bem comum que pais de adolescentes em fase de crescimento, já tenham ouvido seus filhos reclamando de dores intensas sem motivo aparente. Uma rápida pesquisa no google nos explica que, durante a adolescência, dores por crescer são comuns. Para o mundo empresarial, não é diferente. Olhando pela visão da empresa, como um todo, o crescimento precisa de diversas decisões e ambientes favoráveis. Posso usar como exemplo o Mc Donald’s, que precisou de uma mudança no comando e nas operações, com a implementação do sistema de franquias, para que pudesse crescer, além de um ambiente favorável nos EUA (como pode ser visto no filme “fome de poder”).

Essas decisões se tornam mais complexas conforme a empresa aumenta, sendo que a decisão de internacionalização deve levar em conta dezenas de variáveis e problemas que podem surgir. Aqui, abordarei mais profundamente as dificuldades que as seguradoras de saúde têm ao pensar em sair de seu país de origem, focando em especial, nas características do mercado de saúde entre países.

Com a globalização, estamos acostumados com o fato das grandes empresas de um determinado setor (no âmbito internacional) serem, praticamente todas, multinacionais. Esse não é o caso das seguradoras de planos de saúde. Entre as 5 maiores empresas desse setor, apenas 2 possuem forte presença global. As maiores empresas do setor e suas presenças globais são:

  • A UnitedHealth Group Incorporated, dos EUA, que atua fortemente em 6 países;
  • AXA, da França, que possui presença em diversos países do mundo;
  • Ping An Ins. (Group), da China, que tem atuação forte apenas na China;
  • China life insurance Group, estatal chinesa, com presença apenas na China e Malásia;
  • Kaiser foundation, dos EUA e que atende apenas nos EUA.


  • Qual o motivo dessas empresas terem maior presença regional? Por que é tão complexo, para essas empresas, terem abrangência internacional? O mercado da saúde é complexo e diferente, de país para país. No Brasil, por exemplo, o setor da saúde pública é visto como referência no âmbito internacional. O SUS (sistema único de saúde) tem diversas responsabilidades desconhecidas pela população, como fazer a vigilância epidemiológica, o sistema de transplantes (maior do mundo), a vigilância sanitária e o planejamento e implantação de saneamento básico em cidades pequenas. Ainda assim, não é um sistema perfeito.

    Longas filas de espera nos hospitais e meses para marcar uma consulta médica, sempre foram as maiores reclamações das pessoas. Podemos observar os efeitos disso quando olhamos o mapa “Taxa de cobertura dos planos de assistência médica por UF (abril de 2020)”, que mostra como, nas regiões mais populosas do país, há maior cobertura de seguradoras privadas (nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo), uma vez que a população, nessas regiões, tem maior poder aquisitivo e é a que mais sofre com os problemas da superlotação. Um fato importante e que deve que ser levado em consideração é que, no Brasil, os sistemas público e privado são pouco interligados.
    consulta

    O sistema brasileiro é completamente diferente do francês e do italiano (que são bem parecidos), uma vez que, apesar de possuir o mesmo princípio: de saúde universal, tem uma atuação diferente.
    O sistema de saúde francês e italiano funciona com uma integração dos sistemas públicos e privados (hospitais e clínicas públicas e privadas), sendo que o governo é responsável por pagar a maioria dos custos da utilização dos serviços de saúde para cada habitante. Os planos de saúde complementar existem, porém eles têm o papel de pagar os custos que não são cobertos pelo governo, como psicólogos e dos custos complementares (já que o governo não paga tudo).

    Um exemplo é que, quando se vai a uma consulta em um oftalmologista, por exemplo, o governo arca, normalmente, com até 70% do valor da consulta e, os outros 30% são pagos pelo paciente ou pelo plano de saúde complementar (na França). No sistema de saúde italiano, consultas e alguns medicamentos são pagos pelo governo, porém, exames e atendimentos não-emergenciais tem uma taxa para os planos ou população (a maioria dos serviços é gratuita).

    Já nos Estados Unidos, o sistema de saúde é completamente privado e corretivo. Para ser atendido nos EUA, um cidadão precisa ter um plano de saúde, ou arcar com os custos de uma ida ao hospital (que, muitas vezes, são responsáveis pela falência de algumas pessoas). O governo norte americano tem programas de assistência médica apenas para aposentados, que contribuíram durante toda a vida com impostos, além de programas para as pessoas mais carentes (que não conseguem, de forma alguma, arcar com as despesas médicas). Além dessa diferença, os planos de saúde cobrem apenas intervenções corretivas, não as preventivas.

    Sendo assim, um “check-up” custará muito mais caro do que é imaginável para um brasileiro e não será reembolsado pelo plano de saúde.
    Por fim, na China, o sistema de saúde também é completamente pago. Existem hospitais públicos, mas uma visita a um desses também será cobrada de um cidadão chinês. Apesar de ser um país comunista, eles não possuem um sistema de saúde universal, como no Brasil ou na Europa, devido, em especial, à demografia do país, uma vez que a China tem 20% da população mundial. Sendo assim, os planos de saúde e em especial, as health techs (que têm ganhado força por conta da velocidade e dos serviços mais baratos do que os concorrentes) são as únicas alternativas para a população que, tem ganhado maior poder aquisitivo e adquirido, cada vez mais, esses tipos de serviços.

    Sendo assim, mesmo explicando de maneira simplista os sistemas de saúde destes países, já é possível perceber o quanto o ambiente da saúde é diferente de país para país, por diversos motivos, como a legislação (a saúde pode ser universal ou não), a diferença na forma de tratamento (corretiva ou preventiva) e as diferenças entre os sistemas públicos e privados de cada país, como cada um desses sistemas funcionam, entre outras variáveis não mencionadas, como por exemplo a logística e a cultura, que juntos, tornam muito difícil para uma seguradora de plano de saúde conseguir ter presença global.